O livro.

Caminho pela estrada escura e abandonada. Não sei para onde vou, nem o que vou fazer. A estrada não tem fim... No meio do nada, está uma casa grande e quase desmoronada. E eu entro.

Está escuro. Tudo ali é escuro e a dor está em cada parede que a percorre. O ar é misterioso... No fundo do corredor cheio de relógios de todas as formas e feitios, estão umas escadas de madeira em forma de espiral. Subo cada degrau velho e cheio de pó, chiando sempre que os meus pés os pisam. No andar de cima tento abrir cada porta de acesso às divisões. Quase decidida a voltar para trás, abro a única porta que não estava trancada... Está vazio, apenas contém um livro num dos cantos. Dou alguns passos até ele e para minha surpresa o livro tem como título, o meu nome. Com alguma curiosidade abro o livro...

Um vento forte e cheio de poeiras enche aquela divisão até aparecerem algumas pessoas. Fico surpreendida quando as reconheço...Os meus pais e a minha irmã. Percebi...é a minha infância. Aquelas recordações fazem-me sentir feliz. Todos os sorrisos, momentos e sítios, são felizes. Cheguei ao fim do primeiro capítulo do livro. Uma breve pausa é feita e o segundo capítulo começa. Não se vê ninguém. De repente ouve-se um telefone tocar... Alguém atende. Há um silêncio... Ouve-se o som do telefone a ser colocado no sítio. Lágrimas. Gritos. Dor. Pânico. Não me senti de maneira alguma. Nem alegre, nem triste. Apenas distante. O capítulo que acabara de ver fora curto e eu não o percebera. No novo capítulo estou eu. Sozinha. Todos os momentos, reacções e sítios, são tristes. E essa tristeza envolve-me de tal maneira que tenho ódio. De tudo. De todos.

Não congio deixar o livro que relata a minha vida e fico assim... Preenchida, envolvida, no ódio....Ódio. Ódio. Ódio. Ódio. Ódio. Ódio. Ódio. Ódio.