Aug 29, 2007

Nesta noite morta e apodercida, tenho companhia. Não posso considerar uma pessoa, um espírito, ou uma alma.
Está comigo nesta noite silenciosa.
Leva-me até ao cimo da montanha, passando por árvores de várias espécies. Leva-me pela minha mão fria. Aquela mão em que o pulso tem marcas de cortes de pequenas lâminas.
Está comigo nesta noite quente.
As árvores estão a arder. O vento está forte. Os animais estão a morrer carbonizados. As chamas têm cor vermelho vivo. Sangue dos animais, possivelmente. Chegam até nós. Eu e a minha companhia.
Está comigo nesta noite incendiada.
A lua aparece. E com ela vem alguém. Alguém coberto por um manto preto e comprido. Tem um capuz que lhe tapa a cara, deixando apenas ver escuridão. Alguém com uma espécie de machado na mão. A minha companhia largou a minha mão. A espécie de machado ergueu-se. Tão alto que parecia chegar à lua..

Aconteceu.
Senti um arrepio, como se um fio de água nascesse e mim, naquele momento.Água já morta, vermelha, vazia, mas transparente. Enquanto isso acontecia, vi pequenas memórias...Enquanto o meu corpo estava a apodrecer, o batimento do meu coração parava. Sem sentir dor. Apenas sofrimento.

Esteve comigo naquela noite sem dia.

2 comments:

Tiago said...

Mal por mal, nós temo-nos sempre a nós próprios.
*

Anonymous said...
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